Como a Osteonecrose se Desenvolve (Patofisiologia)

A partir do entendimento do mecanismo de ação dos bifosfonatos e do denosumab, é possível entender alguns fatos relacionados a patofisiologia por trás da MRONJ. A maxila e a mandíbula apresentam uma alta demanda por remodelação óssea frente aos inúmeros desafios aos quais esse tecido ósseo é exposto, que incluem desde microtraumas relacionados à mastigação, doença periodontal, lesões periapicais, movimentos ortodônticos, extrações, implantes e até reconstruções ósseas. Diante da supressão da remodelação provocada pelos bifosfonatos e pelo denosumab, a matriz óssea com atividade osteoclástica deficiente é incapaz de eliminar o tecido ósseo frágil, gerando um osso fisiologicamente inviável, que pode ser visto como osso alveolar não reparável após exodontias ou como sequestro ósseo, ou seja, um bloco ósseo que se desprende da sua porção mais basal.

Imagem histológica representativa do tecido ósseo necrótico encontrado na MRONJ, onde se pode observar ausência de osteócitos preenchendo as lacunas e ausência de osteoblastos circundando o tecido ósseo desvitalizado.
Radiografia panorâmica representativa, onde é possível observar alvéolos não reparacionais após 8 meses de exodontia na região posterior da mandíbula.

A inflamação e infecção também são fatores bastante presentes na MRONJ, uma vez que, sendo a boca um local potencialmente contaminado, a dificuldade da matriz óssea em gerar respostas metabólicas reparadoras a citocinas e células pró-inflamatórias produz um ambiente propicio para contaminação, principalmente de bactérias anaeróbicas, o que por sua vez gera mais reação inflamatória e produção de substâncias que estimulam a necrose tecidual dos tecidos adjacentes ao osso prejudicado. 

Outro fator a ser considerado, é a reduzida vascularização relacionada a estes medicamentos, o que impede que os substratos necessários ao reparo ósseo cheguem ao local estipulado e compromete significativamente a manutenção da perfusão tecidual necessária, favorecendo a morte celular, tanto óssea, quanto dos tecidos moles adjacentes (gengiva e mucosa). Os tecidos moles podem também ser afetados por produtos tóxicos liberados por bactérias, células inflamatórias altamente ativas e citocinas. Consequentemente, a lise tecidual e perda gradual de tecido de recobrimento, aceleram a exposição do tecido ósseo. É importante ressaltar que, grande parte dos pacientes que recebem tratamento com essas medicações, se encontram com doenças malignas ou com reumatismos acentuados, o que está relacionado também a uma alteração geral na resposta imunológica, sendo um fator agravante a MRONJ e a dificuldade de seu tratamento.

Referências

ZIEBART, Thomas et al. Impact of soft tissue pathophysiology in the development and maintenance of bisphosphonate-related osteonecrosis of the jaw (BRONJ). Dentistry Journal, v. 4, n. 4, p. 36, 2016.

ZIRK, Matthias et al. Microbial diversity in infections of patients with medication-related osteonecrosis of the jaw. Clinical Oral Investigations, v. 23, n. 5, p. 2143-2151, 2019.

CHANG, J.; HAKAM, A. E.; MCCAULEY, L. K. Current Understanding of the Pathophysiology of Osteonecrosis of the Jaw. Current osteoporosis reports, v. 16, n. 5, p. 584-595, 2018.

A
U
T
O
R
(A)

Stéfany Barbosa

Stéfany Barbosa

5 2 Votos
NOTA DO ARTIGO
Inscreva-se
Notificar por

0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários
0
Gostaríamos de saber sua opinião sobre esse artigo! Por favor, comente!x